Nessa-quinta feira, 2 de agosto, o De cara com a Capivara recebeu duas estado-unidenses. Duas cowgirls do old oeste, apresentam quem elas são. Um retrato de duas estado-unidenses por si só.
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Também leia o texto de Eduardo Galeano, prefácio, no seu livro "As veias abertas da américa-latina".
Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os. São muito mais altos os impostos que cobram os compradores do que os preços que recebem os vendedores; e no final das contas, como declarou em julho de 1968 Covey T. Oliver, coordenador da Aliança para o Progresso, “falar de preços justos, atualmente, é um conceito medieval. Estamos em plena época da livre comercialização...” Quanto mais liberdade se outorga aos negócios, mais cárceres se torna necessário construir para aqueles que
sofrem
com os negócios. Nossos sistemas de inquisidores e carrascos não só
funcionam para o mercado externo dominante; proporcionam também
caudalosos mananciais de lucros que fluem dos empréstimos e
inversões estrangeiras nos mercados internos dominados. “Ouve-se
falar de concessões feitas pela América Latina ao capital
estrangeiro, mas não de concessões feitas pelos Estados Unidos ao
capital de outros países... É que nós não fazemos concessões”,
advertia, lá por 1913, o presidente norte-ameiricano Woodrow Wilson,
Ele estava certo: “Um país - dizia - é possuído e dominado pelo
capital que nele se tenha investido.” E tinha razão. Na caminhada,
até perdemos o direito de chamarmo-nos americanos, ainda que os
haitianos e os cubanos já aparecessem na História como povos novos,
um século antes de os peregrinos do Mayflower se estabelecerem nas
costas de Plymouth. Agora, a América é, para o mundo, nada mais do
que os Estados Unidos: nós habitamos, no máximo, numa sub-América,
numa América de segunda classe, de nebulosa identificação.
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