1° de Maio – Dia de Luto e de Luta!



Em 1886, exatos 129 anos atrás, ocorria no dia 1 de maio em Chicago uma greve geral dos trabalhadores em favor da redução da jornada de trabalho para oito horas diárias.
Os sindicatos daquele período eram formados sobretudo por militantes anarquistas e socialistas que se empenhavam em construir um movimento que fosse capaz de produzir um mundo mais digno de se viver, em especial para a classe trabalhadora. Foi nesse contexto que surgiu a demanda pelas 8 horas de trabalho. Surgiu assim uma associação em favor das 8 horas que promovia reuniões em praças públicas para a organização e preparação da greve.
Dentre os militantes anarquistas que se destacavam nos comícios por sua boa oratória estavam Parsons, Spies, Fielden e Engel, que eram conhecidos não só nos meios libertários, mas também pela burguesia e governo da época.
À medida que se aproximava o dia da esperada greve a agitação ia aumentando e o temor dos capitalistas também, que passaram a se organizar para resistir às demandas dos trabalhadores. Desde aquele período fazia-se notar a posição infame que a imprensa da época adotava ao abordar o assunto, na tentativa de calar o descontentamento da classe operária. Foi assim que surgiram os primeiros jornais anarquistas, como uma forma de fazer contraponto aos jornais que eram pautados pela classe patronal.
Por fim chegou o dia 1 de maio e os trabalhadores saíram de seus postos de trabalho em favor das oito horas. Mais de cinquenta mil pessoas foram às ruas em Chicago. A greve continuou, e no dia 3 de maio ocorreu um grande comício em frente a fábrica McCormicks, que em fevereiro daquele ano havia demitido 2.100 funcionários que se negaram a abandonar suas organizações sindicais. Spies estava pronunciando seu discurso quando uma confusão começou com a chegada da polícia ao local. Na medida em que os ânimos se acirraram os policiais, acuados com a presença maciça dos trabalhadores, decidiram abrir fogo contra a multidão. Uma verdadeira confusão ocorreu e quando a multidão foi finalmente dispersada, deixaram para trás um saldo de seis mortos e um grande número de feridos.
Na manhã seguinte, no dia 4 de maio, os operários se reuniram e organizaram uma grande manifestação para aquele mesmo dia e que se iniciou já no período da noite. Àquela altura, já não se manifestavam apenas pela jornada de oito horas, mas também contra a brutalidade policial. Parsons, Fielden e Spies discursaram naquela noite. A manifestação transcorria bem, em clima de luto e de luta, até que o prefeito de Chicago, que assistia ao comício com o propósito de dissolvê-lo caso fosse necessário, se retirou e ordenou ao capitão Bonfield que tomasse as medidas necessárias para que forças policiais fossem mobilizadas e dispersassem a multidão. Fielden já estava no final de seu discurso quando aproximadamente 200 policiais avançaram contra a multidão de forma ameaçadora.
Quando era iminente o ataque da polícia cruzou o espaço um corpo luminoso que, caindo entre as fileiras policiais, produziu uma grande explosão. Caíram ao solo mais de 60 policiais feridos e um deles morto, chamado Degan. Posteriormente, mais sete policiais morreram em decorrência dos ferimentos. Instantaneamente a polícia abriu fogo contra a multidão que fugiu apavorada, deixando para trás mais um grande saldo de mortos e feridos.
Os burgueses haviam perdido a cabeça e empurravam a força pública para a matança. Operários de direita e de esquerda foram presos e muitas arbitrariedades foram cometidas contra pacíficos cidadãos sem motivo justificado. Os oradores daquela noite também foram detidos e sobre eles recaíram as acusações mais graves.
A imprensa capitalista exigia “justiça” e a polícia dizia possuir provas que ligavam os oradores à bomba que foi atirada. Já não importava o fato de a bomba ter surgido como um gesto de autodefesa de alguém ou algum grupo dentro de uma massa de trabalhadores que era perseguida a tiros pela polícia. Nos dias seguintes seguiu um processo amplamente enviesado para condenar as lideranças daquelas manifestações. O júri era composto por pessoas que eram predispostas contra os militantes anarquistas e socialistas. Os acusados tiveram que conformar-se em pôr sua vida nas mãos de pessoas que os acreditavam criminosos. Ainda assim, não existia nenhuma prova cabal que ligasse os acusados à bomba assassina.
Para provar o delito de conspiração, o ministério público teve que recorrer à imprensa anarquista, apresentando fragmentos de artigos e discursos dos processados, muito anteriores aos acontecimentos que deram origem ao processo. Os acusados haviam proferido duras palavras contra a atual ordem das coisas, contra a revoltante distribuição do trabalho e da riqueza, contra as leis e seus mantenedores, contra a tirania do Estado e o privilégio da propriedade, e era necessário tomar vida por vida e afogar em sangue a nascente ideia anarquista.
Em 20 de agosto de 1886 se fez público o veredito do júri. Spies, Schwab, Fielden, Parsons, Fischer, Engel e Lingg foram condenados à morte. Sete homens foram condenados por suas ideias, por acreditarem no socialismo e na anarquia. Os advogados de defesa pouco puderam fazer, uma vez que não ficou provado que os acusados houvessem cometido crime algum. A promotoria insistia em ressaltar as ideias professadas pelos acusados e neste ponto a defesa nada podia fazer, uma vez que os réus se orgulhavam delas. Em 11 de novembro de 1887 a burguesia de Chicago saciou sua sede de sangue. Schwab e Fieden foram indultados da pena de morte e enclausurados perpetuamente. Lingg se suicidou com um explosivo em sua cela. Spies, Fischer, Engel e Parsons foram enforcados, não sem antes se fazerem ouvir de modo tão profundo que ainda ecoam até nossos dias. Em poucas palavras, essa é a história que fez do dia 1 de maio o dia do trabalhador e conseguiu, ao custo de muito sangue e sofrimento, estabelecer o limite máximo de oito horas de trabalho por dia.

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